Roménia. Eleitores regressam às urnas e recusam nova anulação
- 04/05/2025
Essa era a convicção de Andrew, de 26 anos: "Não vai acontecer outra vez, as autoridades não vão cancelar as eleições, para evitar riscos", disse à Lusa, após ter votado num liceu.
A anulação da primeira volta das eleições presidenciais, realizada em 24 de novembro, uma decisão inédita do Tribunal Constitucional por suspeita de interferência russa, gerou polémica no país e forçou a repetição da votação.
"Foi bom terem anulado", considerou o jovem.
As sondagens apontam para a vitória do candidato populista George Simion, líder da Aliança para a União dos Romenos (AUR), segunda maior força política no parlamento, com cerca de 30% dos votos, o que o colocaria na segunda volta, marcada para 18 de maio.
Andrew duvida dessas sondagens e acredita na vitória de Nicusor Dan, presidente da câmara de Bucareste e que concorre como independente, com o apoio dos liberais (União Salvar a Roménia, terceira força política).
O casal Paula (42) e Mircea (41) foram votar hoje de manhã, acompanhados da filha.
Sobre a anulação das eleições de novembro, dizem que preferem "esquecer o que aconteceu".
"Ao princípio, fiquei chateada, mas depois de pensar melhor, penso que foi melhor assim", comentou Paula, admitindo ter ficado surpreendida com a vitória, naquela primeira volta, do populista Calin Georgescu, catapultado por perfis falsos nas redes sociais, em especial o TikTok, e que foi impedido de concorrer a este escrutínio.
O autarca de Bucareste também merece o apoio deste casal, que receia que, na segunda volta, a escolha seja entre Simion e Crin Antonescu, candidato da coligação no poder.
"Será uma escolha de um mal menor", referiu Paula.
Sylvia, de 28 anos, não concordou com a anulação das eleições: "Foi uma decisão estúpida e contra os direitos de voto".
"Se houve uma ameaça [devido à ingerência russa], é bom que as autoridades tenham feito algo, mas merecemos saber mais", reclamou.
Sylvia espera que vença Nicusor Dan: "Quero que ganhe um candidato pró-União Europeia, mas alguns deles também são corruptos, velhos políticos que destruíram a economia romena. Nicusor Dan é o único com um passado limpo, era um ativista que lutava contra o sistema", considerou.
Dragos, 46 anos, foi votar com o filho, de 8. Espera que a Roménia "continue o caminho da União Europeia e da NATO" e que as pessoas percebem que "pertencer a estes clubes implica ter obrigações e não só direitos".
O homem admitiu ter ficado preocupado com a anulação das eleições, mas acredita que "infelizmente, foi a decisão correta".
Nas mesas de voto visitadas hoje de manhã pela Lusa no centro da capital romena, Bucareste, não havia filas e a votação decorria em poucos minutos.
Segundo a Autoridade Eleitoral Permanente, a afluência às urnas está a ser superior à registada em novembro: até às 12:00 locais (menos duas horas em Lisboa), votaram 3,5 milhões de eleitores (19,54%), contra 16,47% dos eleitores que tinham votado até à mesma hora no dia 24 de novembro.
O processo eleitoral está a ser acompanhado por uma equipa do Escritório para as Instituições Democráticas e Direitos Humanos (ODIHR, na sigla em inglês), da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Em declarações à imprensa, após visitar uma mesa de voto no centro da capital, Eoghan Murphy, chefe da missão, referiu que o organismo está a acompanhar o processo eleitoral desde 25 de março e até 25 de maio.
No total, a equipa é composta por 30 membros, que se encontram em Bucareste, mais 22 observadores de longo prazo em todo o país. A Assembleia Parlamentar da OSCE também tem uma delegação no terreno.
O responsável remeteu para segunda-feira as primeiras conclusões sobre o processo eleitoral, referindo que os membros da missão tem mantido encontros "com diferentes atores da administração eleitoral, sociedade civil, partidos, candidatos", quer na capital, quer a nível local nas diferentes regiões do país.
"Os nossos especialistas estão a observar todos os aspetos do processo eleitoral, como a administração eleitoral e as leis eleitorais, também o ambiente da imprensa, o ambiente político e como a campanha está a ser conduzida quer a nível pessoal, mas também na imprensa e online", referiu.
Quase 19 milhões de romenos foram hoje chamados a escolher entre 11 candidatos presidenciais. A votação começou pelas 07h00 e termina às 21h00 locais (menos duas hora em Lisboa), altura em que serão conhecidas as primeiras projeções.
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