"Descuido" levou a "aflição" e quase "tragédia" no Fundão. Eis os relatos
- 19/06/2025
Um dos passageiros que seguia na penúltima carruagem do comboio Intercidades que abalroou um camião relatou os momentos de "aflição" vividos após o acidente, na Linha da Beira Baixa, na Alpedrinha, no Fundão.
Sem se identificar, em declarações à RTP3, o homem contou que começou por sentir uma "travagem", a que se seguiu a queda de "algumas malas".
"Vimos que tinha sido um acidente, com algo a arder através das janelas. Já estávamos todos aflitos, mas lá conseguimos abrir a porta, saltámos para a linha e fugimos. Andámos pelas hortas fora até vir a GNR, que entretanto nos chamou", recordou.
O passageiro, que vive na Guarda, seguia para Lisboa onde tem, na quinta-feira de manhã, às 10h00, a primeira comunhão da neta, na Ramada, em Odivelas. "Assim não sei se terei de voltar para trás", afirmou.
Já Teresa Mira, de 65 anos, estava "nem há cinco minutos" no comboio quando ouviu "um estrondo e fumo grande". "O jovem que ia ao meu lado disse temos que sair, temos que sair, temos que sair", contou à agência Lusa a passageira do Intercidades que a devia levar a Vila Franca de Xira (Lisboa).
Contou ainda o susto enorme que apanhou com o incidente, acrescentando que a sua mala terá ardido, pois "seguia na primeira carruagem que ardeu".
Também Rodrigo Bento, de 22 anos, estava numa das carruagens afetada pelo incêndio que mobilizou para o local quase duas centenas de operacionais na noite de hoje, tendo relatado um "tremer por todo o lado" e repetidos gritos de alerta para fogo.
"A reação foi ir para a porta e sair, inicialmente estavam trancadas, fizemos alguma força para as abrir. Uma das carruagens parecia estar toda sob fogo", realçou o estudante de Ciências do Desporto na Universidade da Beira Interior, que seguia da Covilhã para o Entroncamento (Santarém).
Apesar de ter vivido a "viagem mais atribulada em quatro anos", o estudante frisou ainda que voltou ao comboio para retirar todos os seus pertences.
"Podia ter sido uma tragédia"
O acidente aconteceu numa passagem de nível junto à estação da vila de Alpedrinha e, para já, as circunstâncias que levaram ao abalroamento ainda são desconhecidas, mas o presidente da Câmara do Fundão, Paulo Fernandes, fala numa "situação de algum descuido por parte do condutor do camião".
"As cancelas estavam em baixo. Como tal, terá ficado preso, entrou em pânico, abandonado o camião e, passados alguns segundos, abalroado pelo comboio", disse Paulo Fernandes, também em declarações à RTP3.
Sabe-se que há quatro feridos ligeiros, transportados para o hospital da Covilhã, e os restantes passageiros estão no local, a aguardar transporte alternativo.
O camião, que por volta das 22h00 ainda ardia, transportava framboesas. "O incêndio está praticamente extinto. Isso preocupava porque era um incêndio de alguma violência e com materiais muito inflamáveis", informou o presidente da Câmara.
O autarca não tem dúvidas de que "podia ter sido uma tragédia".
"O comboio neste lugar estará a cerca de cem quilómetros por hora. O choque provocou de imediato um incêndio no camião, que foi arrastado, e as carruagens do meio do comboio ficaram a arder pelo arrastamento do incêndio do camião a essas carruagens. Estamos a fazer um trabalho de triagem com a Proteção Civil, GNR, bombeiros, IP e CP e à espera que a CP envie os autocarros para fazer o transbordo", avançou.
Este acidente acontece numa "altura muito forte" para o turismo da região.
"Foram semanas longas, com vários feriados. É uma altura muito forte da perspetiva turística no nosso concelho, com a cereja do Fundão. As pessoas não ganharam para o susto, mas o mais importante é estarem, de uma forma geral, todos bem", acrescentou Paulo Fernandes.
A autarquia do Fundão disponibilizou autocarros para os passageiros que pretendiam regressar ao local de partida, enquanto a CP colocou à disposição autocarros para transportar pessoas para a Lardosa (Castelo Branco), onde podem apanhar um Intercidades e seguir o trajeto em direção a Lisboa.
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